Centro de Estudos Neo-Reichiano



Arte/são da Psicoterapia
Por Jean MArc Guilherme - Trainer Internacional de Análise Bioenergética
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Tem momentos em que fazemos o balanço de nossas vidas, onde a gente faz o ponto sobre a evolução da sua prática clínica. Como psicólogos, passamos tantos anos a engolir o saber, que não temos tempo ou distanciamento para avaliarmos se nossas aquisições são justas, operantes ou aleatórias ou se são só logros ou ilusões inconsistentes.

- Ajudar?

Que se passou com a relação de ajuda, que teve um grande sucesso nos anos 60? Nesta época, tornei-me um ajudante natural porque a cultura católica na qual eu banhava-me na época, fazia-me amar ao próximo como a mim mesmo.Entretanto um professor de doutorado fez perguntas sobre o valor de tal concepção: que significa ajudar? É possível realmente ajudar o outro? Ajuda-te e o céu vai ajudar-te (provérbio comum).

Dr. Alexander Lowen, o criador da Análise Bioenergética, acrescenta: “fracassei porque tentei demais ajudar meus clientes, para vencer suas dificuldades, para irem bem, para sentirem-se bem”. (pg. dois)

- Interpretar?

Sobre o divã, aprendi com a experiência que a interpretação justa, um pouco como o álcool, levanta as inibições, libera as pressões do superego e reaviva as pulsões. Ao mesmo tempo, controlando-as suficientemente, para não revolucionar, desorganizar a sociedade! Apaixonava-me então por um livro chamado ”A Arte da Interpretação”. Pois comecei a interpretar dentro de um quadro analítico. Ai de mim! Apesar de meus conhecimentos e esforços os clientes não mudaram. Quase nada. Me desencorajei. Um dia, um amigo biologista, afirmou: “O sonho, sabes, é maior que sua interpretação”. Assassinando assim, minha crença na magia da interpretação!

-Entender?

Durante a formação que fiz depois em Psicoterapia Familiar e Análise Bioenergética, recebi uma chave nova para abrir os sistemas e também liberar a energia. A importância de compreender (to understand), sem saber de que isso significava: “Com-prender?”, Under-stand?

Bom aluno tratei de compreender até o dia que durante uma palestra no Instituto Internacional de Análise Bioenergética, Dr. Lowen disse “nunca um homem pode entender uma mulher e nunca uma mulher pode entender um homem”. Eu já me disse isso. Mas tinha vergonha disso. Se um psicólogo não é um modelo de compreensão, para onde vamos?

-Vincular-se?

Mais recentemente, novas perspectivas nasceram. Temos que criar uma relação de “atamento”, uma ligação, vincular, para reparar os traumatismos.

Um pouco como o vínculo do casamento?Uma relação de prender, aprisionar o outro. Como o domínio da mãe sobre o bebê?

Confesso meu ceticismo e grito: Viva a liberação!

Ajudar? Interpretar? Compreender? Vincular-se?

“We teach what we need most”, “ensinamos o que mais precisamos”, diz sempre minha amiga Jacqueline Prudhomme, de Montreal, refletindo assim a parte de subjetividade e de projeção que cada orientação esconde sobre um código supostamente adequado...

Neste momento, como definir minha epistemologia, uma vez desfeitos todos os modelos em que fui banhado e com que ganhei minha vida?...”Fácil de criticar!”, dizia o outro. Mas como definir minha posição movente, atual, instável, quando não se tem mais dogmas e certezas?

Como ser? Como fazer com o cliente em terapia? ...

Vou tentar fazer de um ponto de vista bioenergético.


1) Estar lá. Curioso.

Isso com um olhar bem benevolente, varrendo indolentemente o corpo do cliente. E também indiferente algumas vezes. Observar a expressão facial, a atitude e quando o cliente está sem roupa, a maneira de respirar que vão junto e que põe problemas (de saúde). A análise Bioenergética é uma terapia baseada no olhar muito mais que uma terapia da escuta.

2) Estar lá Integro.

Ser capaz de sentir o sofrimento do cliente, de fazer de maneira que este organismo seja mais vivo, mais sexual, mais enraizado, de respeitar os objetivos e a demanda inicial. Sem que isso vá custar uma fortuna. Sem que vá ser um processo sem fim.

3) Estar lá. Ativo.

“Uma terapia que move significa um terapeuta que se move”, dizia Virginia Satir “. O analista Bioenergético registra muitas informações sobre o cliente. Verbais, corporais, para agarrar o que é morto, enterrado, negado (a couraça emocional).

Para MOBILIZAR A RESPIRAÇÃO, A VIBRAÇÃO, O ENRAIZAMENTO.

“Uma respiração mais profunda aumenta o metabolismo do corpo, produzindo assim mais energia, mais vitalidade corporal, levanta mais emoções, particularmente o medo, o pânico, o terror, o desespero. Aprofunda a tristeza e o medo de morrer” (Lowen, pg.4}

“Mas nenhum terapeuta pode guiar com segurança um paciente através de um mundo subterrâneo que não houvera atravessado ele mesmo” (Lowen, pg. 5}

Um bom terapeuta não se apega aos seus clientes. Ele é disponível, mas não sempre. Ele não é perfeito e sabe reconhecer suas faltas. Ele não abusa de seu poder. Ele não tem medo do ser amado, de ser odiado. Ele não tem necessidade de seus clientes, para viver sua vida. Geralmente ele está em ressonância emocional com seu cliente. Ele se deixa emocionar. Ele é sensível à beleza do corpo vibrante. Lowen (pg 2} diz que o terapeuta não tem necessidade de ser amado. Eu não estou seguro disso. “Sem amor eu não sou ninguém”, “sans amour on n´est rien du tout” canta Edith Piaf.

O terapeuta é principalmente um clínico e isso etimologicamente, significa alguém que se inclina sobre uma pessoa enferma com a intenção de curá-lo. Ele poderia ser também um atravessador.


Fazer terapia corporal é uma maneira de artesão; algumas vezes: uma arte.

A citação de Lowen vem de um dos seus últimos artigos, “the process of bioenergetic analysis”, em Boenergetic Analysis, vol 6, no 1, Summer 1995, publicado pelo Instituto de Análise Bioenergética de Nova York,

Este artigo me parece como um testamento de Lowen, e recomendo sua leitura e meditação.



Ilha de Itamaracá, 2002-12-02

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