Centro de Estudos Neo-Reichiano



Um Corpo Desabitado - Estudo de um Caso Clínico
Por José Alberto Moreira Cotta - Trainer Internacional de Biossíntese
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RESUMO: Neste trabalho, tecerei comentários sobre a teoria do amadurecimento pessoal de Winnicott e sua aplicação clínica. Mencionarei algumas das diferenças epistemológicas entre as teorias freudiana e winnicottiana, bem como abordarei alguns aspectos que considero dos mais relevantes e originais na obra de Winnicott. Farei referências à minha hipótese de que a teoria neo-reichiana pertence ao paradigma freudiano, bem como à de que certas afirmativas de Lowen com respeito à teoria de caráter não dão conta de um adequado entendimento da falha do alojamento da psiquê no soma. A título de ilustrar o que considero a adequação, aplicabilidade e atualidade da teoria winnicottiana, apresentarei fragmentos de um caso clínico de um de meus pacientes e os articularei com a teoria de Winnicott.

PALAVRAS-CHAVE: falha no alojamento da psiquê no soma, si-mesmo unitário, unidade psiquê soma, mentalização e holding.

ABSTRACT: In this work, I will make commentaries about Winnicott´s theory and its clinical application. I will mention some of the epistemological differences between the freudian and the winnicottian theories, as well as certain aspects of what I consider some of the most relevants and main aspects of Winnicott´s work. I shall also refer to my hypothesis that the neo-reichian theory belongs to the freudian paradigm, as well as that some assertions of Lowen´s character theory do not match an adequate understanding of the failure of the dwelling of the psyche in soma. By means of illustrating and to confirm the clinical adequacy, actuality and applicability of the winnicottian theory, I will present some fragments of a clinical case of one of my clients and then I will make an articulation between the case and the theory of Winnicott.
KEY-WORDS: failure in the dwelling of the psychic in the soma; unitary self; psychic soma unity; mentalization; holding.


INTRODUÇÃO

Desde há muito constato um número cada vez mais crescente de pacientes cujo material clínico trazido para análise era um... vazio, um... nada, muitas vezes acompanhado de um certo terror que se expressava claramente em seus rostos. As queixas desses pacientes não diziam respeito a questões edípicas e/ou pulsionais, mas, sim, a não sentirem seu corpo, a não terem um corpo, a sentirem-se “um nada”, a não serem eles mesmos, a não se sentirem com uma identidade própria. Eram homeless de si mesmos.
Creio que, na perspectiva neo-reichiana, tender-se-ia a diagnosticar esse tipo de paciente como um caráter esquizóide, na medida em que, efetivamente, encontro traços esquizóides em seu comportamento, tais quais descritos por Lowen, como, por exemplo,
“a tendência a: 1) {...} dividir ou cindir o funcionamento unitário da personalidade, dissociando, por exemplo, o pensamento do sentimento, ou acusando uma tendência nesse sentido: o que pensa o indivíduo parece ter pouca relação com o que sente ou com a maneira como se comporta”; 2) retirar-se para dentro, interrompendo ou perdendo contato com o mundo ou com a realidade exterior”. (Lowen, 1978, pp.143-4, itálicos meus).
Esses pacientes têm, por assim dizer, um ego frágil, cuja dinâmica em muito se assemelha, também, a outras características esquizóides por ele definidas:
“A palavra esquizóide se aplica a uma pessoa que tem diminuído o sentido do eu, cujo ego é débil e cujo contato com seu corpo e seus sentimentos está reduzido consideravelmente”. (Lowen, 1978, p. 144, itálicos meus ).
Se, por um lado, reconheço a existência dessas e de outras características típicas de um caráter esquizóide nesse tipo de paciente, por outro, a teoria neo-reichiana de caráter não me foi satisfatória para a compreensão da etiologia desse tipo de distúrbio, nem, por conseguinte, para seu tratamento.
No entanto, a teoria do amadurecimento pessoal de Winnicott aproxima-se desse tipo de fenômeno clínico e – pelo menos para mim - fornece elementos mais eficazes do que a teoria neo-reihiana, quer seja para o entendimento etiológico, quer para o tratamento desse tipo de distúrbio. Isso é o que procurarei expor abaixo.

ALGUMAS PECULIARIDADES DA TEORIA WINNICOTTIANA

Há diversas particularidades na teoria de Winnicott. Dentre elas, destaco o fato de que, como demonstra Loparic (1997 e 2001), Winnicott abandonou o paradigma do Complexo de Édipo da psicanálise tradicional e introduziu, com a criação de sua teoria do amadurecimento pessoal, o que esse pesquisador da PUC/SP denomina de “paradigma do bebê no colo da mãe” (Loparic, 1997, p. 375), efetuando uma verdadeira “revolução científica”, nos termos de Kuhn (2000).
Dentre outras características da teoria winnicottiana, ressalto o fato de estar baseada na idéia de que todo indivíduo é dotado de uma tendência inata ao amadurecimento, isto é, à integração numa unidade. Tal tendência, apesar de inata, necessita, para realizar-se, de cuidados ambientais satisfatórios (facilitadores). Esse é o traço importante e inovador da teoria: a participação vital do ambiente na constituição do indivíduo. Para Winnicott, somente se a mãe puder entrar num especial estado, a que denominou de “preocupação materna primária”, é que ela poderá, a partir de uma identificação primária com seu bebê, reconhecer e atender suas necessidades e ajudá-lo a integrar as diferentes tarefas dos estágios do amadurecimento humano. Isso implica dizer que o desenvolvimento e o fortalecimento do ego, assim como a constituição do si-mesmo unitário são, também, dependentes dos cuidados maternos.
Tomando como base a tese da mudança paradigmática proposta por Loparic, pude depreender várias diferenças entre a teoria tradicional da psicanálise e a winnicottiana, dentre as quais destaco as seguintes: em Winnicott, não existe a ontologia freudiana, pois ele não acredita nos princípios de prazer e de realidade nem nas pulsões de vida e de morte, e o inconsciente freudiano não é algo que já nasce com o bebê, na medida em que ele necessita de um outro ser que, no início, serve de base para a constituição do si-mesmo; com relação às necessidades instintuais, para Winnicott, a instintualidade é secundária, pois o que o lactente tem, enquanto necessidade, é uma urgência de viver (urge to live), ou seja, a necessidade do bebê é a de ser, de ser ele mesmo, de continuar a ser, de existir, de continuar a existir e da confiabilidade da mãe; no que respeita à sexualidade, Winnicott entende que quem amadurece é o indivíduo e não sua sexualidade, pois para ele o indivíduo somente poderá “cavalgar seus instintos” (Winnicott, 1971 f, p. 25; tr. br. W14, p. 8) se amadurecer enquanto pessoa; para Winnicott, o Complexo de Édipo não estrutura o sujeito e ao nascimento biológico não corresponde o nascimento do si-mesmo. A constituição do si-mesmo dependerá do ambiente. Sua estruturação se dará se o ambiente for suficientemente bom, ou seja, se a mãe, a partir de uma identificação primária com seu filho, puder acolhê-lo e dar-lhe suficiente “holding”, para que, desde o estágio inicial da “dependência absoluta”, vá percorrendo, ultrapassando e adquirindo, saudavelmente, os sucessivos estágios do processo de amadurecimento, até à aquisição final do “Eu Sou”; o trauma não diz respeito a “represamentos de desenvolvimento libidinal em pontos de fixação, durante os primeiros cinco anos de vida” (Guntrip, 1992, p. 23). Na teoria winnicottiana, trauma tem um sentido totalmente diverso, pois significa “uma ruptura na continuidade da linha da existência de um indivíduo” (Winnicott, 1971 f, p. 22; tr. br. W14, pp. 4-5, itálicos meus). Um outro conceito que é absolutamente diferente é o de narcisismo primário, que, em Winnicott, não é da ordem do auto-erotismo, mas, abrangendo todo o período denominado de “dependência absoluta”, durante o qual o bebê vive uma fusão do tipo “dois-em-um”, é o olhar da mãe que sustenta, dá holding à experiência de ser si mesmo do bebê.
Com relação ao tema desse estudo propriamente dito, hoje compreendo que o material clínico aqui apresentado se refere ao que Winnicott chamou de falhas no alojamento da psiquê no soma. Diz respeito a um distúrbio da ordem da psicose, nos termos de Winnicott, na medida em que, etiologicamente, o trauma ocorreu antes do indivíduo ter atingido o que Winnicott denominou de estágio do “Eu Sou” (Winnicott, 1984 h, p. 63; tr. br. W14, p. 49), ou seja, antes de poder ser uma pessoa inteira, com uma realidade interna e uma realidade externa, bem como podendo relacionar-se com os demais, como pessoas separadas e externas ao eu. Em função disso chamei de personalidades pré-eu (Cotta, 2003, p. 2) aqueles que sofreram gaps nos estágios de amadurecimento anteriores ao do “Eu Sou”.
O alojamento da psiquê no soma é relativo ao processo de personalização do indivíduo e é uma das três tarefas que, em conjunto com a tarefa da integração no tempo e no espaço e a da apresentação de objetos (realização), integra o mais primitivo dos estágios iniciais do processo de amadurecimento humano, denominado por Winnicott de “Primeira Mamada Teórica”.
Nesse estágio do amadurecimento, o amor da mãe se expressa pelos cuidados físicos. É através do holding que o bebê será recolhido numa unidade. É nessa fase que as bases para a constituição do si-mesmo unitário estão sendo lançadas. Mesmo não sabendo da existência do mundo anterior a ele e ainda que creia que este é criado por ele, é através da apresentação de objetos feita pela mãe que o mundo vai sendo apresentado a ele. Sua relação com os objetos precisa ser integrada no tempo e no espaço, pois temporalizando e espacializando suas experiências é que ele começará a criar seu mundo próprio. Na saúde, se suas experiências puderem ser elaboradas imaginativamente pela psiquê, elas passam a fazer parte de sua memória, de sua história, da experiência de ser si mesmo. O que ele experiencia e elabora imaginativamente é singular, lhe pertence. Pertence à pessoa (persona) que ele já é, ainda que rudimentarmente. Daí a idéia de que o alojamento da psiquê no soma é parte do processo de personalização.
Quando falamos do alojamento da psiquê no soma, devemos pensar na unidade psiquê-soma, na medida em que a psiquê não existe sozinha, nem tampouco o soma em relação à psiquê. A psiquê está para o soma, como este está para aquela. Como apontam Loparic e Elsa Dias, o traço que une é o mesmo que separa. A função da psiquê é elaborar imaginativamente as funções corporais. Quando, por exemplo, o bebê vive uma intrusão (impingement) da mãe, o ambiente se rompe e ele é atravessado por uma “angústia impensável” (Winnicott, 1965 n, p. 57; tr. br. W9, p. 56). Para defender-se, ele irá reagir a essa invasão ambiental, cindindo sua psiquê do soma, dando início ao um precoce processo de mentalização. Esse tipo de defesa foi chamada por Winnicott de “split-off intellect”.
Com a mente aliada à psiquê e cindida do soma, o bebê utiliza a mentalização para tomar conta do ambiente. Ao invés de ser cuidado (care taken), torna-se o cuidador (care taker), situação essa que é uma das origens do falso si-mesmo.
Quando ocorrida nos estágios iniciais do processo de amadurecimento, a cisão na unidade psiquê-soma é considerada da ordem da psicose, pois essa cisão interrompe a continuidade de ser do bebê, que ainda não está reunido numa identidade. Essa identidade só acontecerá, se tudo correr bem, no estágio do “Eu Sou”, que se dá ao redor de um ano de vida. Essa cisão não implica em recalque, pois, para Winnicott, o inconsciente reprimido não nasce com o bebê. Na perspectiva winnicottiana, para que algo seja reprimido no inconsciente é necessário que haja um eu maduro o suficiente para recalcar algo. O que, sim, temos aí é uma situação de não acontecencialidade: cindido, ele pára de crescer, pára de acontecer enquanto si mesmo. Temos, também, que, ao cindir-se do soma, a psiquê vaga sem corpo; em contrapartida, o corpo anda sem psiquê, e o indivíduo não poder ser “dono” de suas vivências, de seu corpo. Dessa forma, o corpo cindido da psiquê é um corpo “sem alma”.
Passemos, agora, ao relato clínico.

FRAGMENTOS DE UM CASO CLÍNICO – UMA LEITURA WINNICOTTIANA

Profissional muito bem sucedido, casado, pai de filhos adolescentes, André (nome fictício) não sabe de si. Logo na primeira entrevista, disse sentir-se “um nada”, não sentir seu corpo, não ter corpo. Sua fala, vazia de emoções, mas muito bem articulada e que a tudo explicava e compreendia, demonstrava uma racionalidade, uma mentalização muito própria do que Winnicott denomina de “split-off intellect”.
Denominando sua mãe de “administrativa”, André confirmou o que a teoria winnicottiana nos tem a dizer, tanto sobre o tema das necessidades quanto com relação à questão do nascimento do indivíduo, pois, ainda que sua mãe administrasse bem suas necessidades instintuais, ela não foi capaz de atender sua necessidade de ser si mesmo. Exemplificarei minha hipótese: quando criança, André fazia natação e sua mãe insistia para que ele tomasse uma vitamina de banana com aveia, antes de começar a nadar. Ainda que detestasse esse tipo de vitamina e embora preferisse tomar só um copo de leite, sua mãe o obrigava a tomar dita vitamina; ao iniciar a natação, ele a interrompia para vomitar a tal vitamina e, depois, recomeçava a nadar. Diante de seus protestos e de sua argumentação de que a tal vitamina não servia ao propósito de lhe dar mais força para nadar, a mãe lhe respondia: “Você vomita porque é teimoso. Você tem é que aprender a gostar dessa vitamina e parar de vomitá-la. Eu faço isso para o seu bem!”. A “tortura vitamínica“ durou os 3 anos em que meu cliente fez aula de natação.
Nesse exemplo, temos o que considero ser um padrão típico do comportamento de sua mãe: sua efetiva preocupação em satisfazer a necessidade instintual de André, porém, a incapacidade de vê-lo como ele mesmo. Dessa forma, incapaz de vê-lo como a pessoa que ele era, não o devolvia a si próprio, não sustentava com o olhar sua experiência de ser si mesmo, deixando-o numa espécie de vácuo de identidade, razão pela qual dizia sentir-se “um nada”.
Além de expressar que “meu tempo é todo para o outro, estou sempre para o outro”, ele relatou diversos episódios em que ficou explícita sua impertinência do tempo, decorrente de falhas na tarefa de integração no mesmo. Um dos episódios mais marcantes quanto a esse tema pode ser observado no seguinte relato: diariamente, sua esposa interrompia suas consultas para, por telefone, discutir a relação matrimonial, queixar-se dele, pedir-lhe conselhos existenciais, solicitar-lhe a resolução de problemas domésticos com a empregada, a faxineira, etc. Mesmo dizendo reconhecer a inadequação daqueles telefonemas, e embora se sentisse invadido e desrespeitado por sua esposa, ele não conseguia dar-lhe um limite, pois tinha medo de que, caso o fizesse, ela o abandonasse.
André não mora em si. Um sintoma dos mais inusitados e que jamais ouvi em minha experiência clínica diz respeito, exatamente, às falhas na integração no espaço: em seus 20 anos de casamento, André mudou-se 22 vezes! Sua desespacialização começou desde a primeira morada, a vida intra-uterina, na medida em que a implantação do óvulo foi dificílima, tendo ele corrido risco de não vingar. Ocorrido nos primórdios da vida fetal, esse fato, dentre outros, corroborava para ele sua “certeza interna” de que sua mãe havia rejeitado sua gestação; conseqüentemente, sua vinda ao mundo, sua existência. A passagem para a grande morada, o mundo, também foi problemática, haja vista uma experiência de muito sofrimento fetal vivida durante seu parto. Os problemas com enraizamento e integração no espaço são reincidentes em sua vida, como se pode observar tanto nas já citadas inúmeras mudanças de casa, como no fato de que ele não tem um lugar seu para dormir. Saído do quarto de casal desde o nascimento do primeiro filho, há uns 18 anos, desde então, ou ele dormia no quarto com os filhos, ou na sala, ou no escritório. Hoje, dizendo-se morar na casa da esposa, dorme sobre um colchonete, no quarto de trocar roupas de sua mulher. Homeless em sua própria casa.
André vive numa fusão objetal com sua esposa, aderido ao corpo dela. Ainda que expresse inúmeras insatisfações e frustrações relativas à vida matrimonial e ainda que quase diuturnamente se sinta humilhado por sua esposa, ele não consegue se separar dela. Minha hipótese a esse respeito vai no sentido de que ele não tem liberdade interna para isso. Sua falta de liberdade seria proveniente do fato de que ele ainda não constituiu um eu suficientemente maduro que suporte a separação da relação de “dois-em-um”, como preconizada por Winnicott. Quando diz que “tenho medo de morrer se vier a me separar dela”, parece-me indicar que, por um lado, ele tem medo de, em separando-se, viver a integração numa unidade, mesmo que tenha necessidade de que isso aconteça; por outro, ter medo do aniquilamento que possa voltar a sentir, caso se separe da relação de “dois-em-um” que tem com sua esposa. Vive, também, isolamentos que parecem do tipo autista, mas que em nada dizem respeito a pulsões; dizem respeito à dificuldade de ser ele mesmo e de relacionar-se com objetos fora da referida relação fusional de “dois em um”. Parece-me que ainda não consegue sair da situação em que o outro é quem lhe fornece o sentimento de ser. O ser si mesmo, diferenciado do outro, ainda não foi incorporado, integrado.
A observação da sexualidade de André indica a correção da idéia que Winnicott tem a esse respeito, quando preconiza que a sexualidade é secundária e dependente do amadurecimento da pessoa: dizendo não ter problemas nessa área, suas relações sexuais são escassas, com intervalo de meses entre uma e outra; quando acontecem, a iniciativa é sempre da esposa, que lhe propõe jogos sexuais de que diz não gostar, mas aos quais acaba por se sujeitar. Mesmo tendo tido desejo por outras mulheres, nunca foi capaz de realizá-lo. Minha hipótese é a de que André submete-se a uma vida sexual frustrante com sua esposa e não consegue realizar seu desejo sexual com outras parceiras, em função de que ele ainda não tem um eu suficientemente maduro e unitário capaz de lhe propiciar uma vida sexual de acordo com seus próprios desejos, ou seja, é incapaz de “cavalgar” seus próprios instintos. Um corpo “sem dono”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse relato clínico, vimos que os problemas de André em nada se referem a questões edípicas, como, também, não são da ordem de conflitos pulsionais que teriam sido vividos durante as fases de desenvolvimento libidinal. O que, em realidade, o atormenta é o fato de ser atravessado por problemas para ser ele mesmo, para integrar-se no tempo e no espaço, bem como para alojar-se em seu corpo e assumir uma integração psiquê-soma. Dizendo de uma outra maneira, seus traumas são relativos a falhas em seu amadurecimento enquanto pessoa, a rupturas na linha de sua existência, que tiveram origem, provavelmente, já na vida intrauterina, mas, a meu ver, efetivamente ocorridas nos primórdios de seu processo de amadurecimento humano, principalmente, durante o que Winnicott denomina de estágio da “Primeira Mamada Teórica”.
Por fim, espero que as elaborações aqui apresentadas possam contribuir para uma discussão e reflexão sobre a teoria e a prática psicoterápicas, sobretudo no que diz respeito a esse fenômeno clínico tão atual: o da falha no alojamento da psiquê no soma.

B I B L I O G R A F I A

Cotta, José Alberto 2003: O Alojamento da Psiquê no Soma, Segundo Winnicott. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica) – PUC, São Paulo.
Guntrip, Harry 1992: Schizoid Phenomena, Object Relations and the Self. New York, International Universities Press.
Kuhn, Thomas S. 2000: A Estrutura das Revoluções Científicas. São Paulo, Perspectiva.
Loparic, Zeljko 1997: "Winnicott: uma Psicanálise não-edipiana", Percurso, ano 9, n. 17, pp. 41-47. Reeditado em 1977: Revista de Psicanálise da SPPA, v. 4, n. 2, pp. 375-87.
__________ 2001: “Esboço do Paradigma Winnicottiano”, Cadernos de História e Filosofia da Ciência, série 3, v. 11, n. 2, pp. 7-58.
Lowen, Alexander 1978 [1975]: Bioenergética. Cidade do México, Editorial Diana.
Winnicott, Donald W. 1962c [1961]: “Teoria do relacionamento paterno-infantil”. In: Winnicott 1965b (W9).
__________ 1965b (W9): O ambiente e os processos de maturação. Porto Alegre, Artes Médicas, 1983.
__________ 1968b: “O aprendizado infantil”. In: Winnicott 1986 b (W14).
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